Participantes reclamaram de descaso por parte do governo.

A Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou na manhã desta segunda-feira (11) audiência pública para discutir a saúde oferecida aos policiais militares e seus familiares. Durante o debate, o serviço em questão foi duramente criticado, assim como a ausência de representantes do GDF. Promovida pelas deputadas Telma Rufino (Pros) e Celina Leão (PPS), a audiência atende a pedido das mulheres dos policiais militares.

A deputada Telma Rufino, que presidiu os trabalhos, criticou as dificuldades encontradas pelos PMs para ter acesso a tratamentos de saúde. A distrital lamentou a falta de união da categoria para lutar por melhorias.

O presidente da Associação de Oficiais da PMDF, José Rosemildo de Souza, cobrou atendimento digno para policiais e seus familiares. Para ele, a diretoria de saúde da PM tem que responder quanto custa garantir o atendimento integral e quanto custa terceirizar o serviço. Segundo Souza, alguma providência precisa ser tomada, com urgência, para resolver o problema da falta de atendimento.

Já o coronel Neviton Pereira Júnior afirmou que a categoria está cansada de ficar "mendigando" atendimento de saúde. Ele citou o caso da esposa de um sargento, que tem um tumor no cérebro e precisa fazer uma cirurgia com urgência, mas não consegue a autorização. Na avaliação do coronel, a categoria está estressada e sob forte pressão emocional, além de conviver com cargas extras de trabalho com frequência e com a falta de efetivo.

O presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da PMDF e CBMDF, coronel Wellington Corsino, destacou que o direito à saúde é dever do Estado. Para ele, é inadmissível o descaso do atual governo com o problema. Corsino considera já ser hora de discutir a subordinação direta da PM à União e não ao GDF. O coronel entende que a situação híbrida, com recursos da União e gestão pelo GDF, atrapalha.

De acordo com Corsino, o sistema de saúde da PMDF é voltado para 72 mil pessoas, entre ativos, aposentados e dependentes. Em 2016, o Fundo Constitucional do DF destinou R$ 166,12 milhões para a área. Diante desses números, ele questiona a desculpa de falta de recursos apontada pelo GDF.

O coronel listou ainda as principais reclamações dos usuários, como a burocracia para a obtenção de autorizações e a demora no pagamento de indenizações. Atualmente, o sistema oferece um hospital para emergências no Gama e uma rede credenciada, que sofre com frequentes atrasos nos pagamentos e dívidas anteriores.

Soluções – Entre as possíveis soluções para o problema, Corsino sugeriu a gestão do Fundo direto pela PMDF, sem passar pelo GDF; o aporte dos recursos na conta da PMDF; o desenvolvimento de estudos para analisar se a contratação de um plano de saúde privado seria mais viável, e a avaliação de uma parceria público-privada (PPP) com uma operadora de saúde, com o aproveitamento do hospital existente e de seus médicos.

Já o coordenador do Fórum das Associações, Mauro Brambilla, assinalou que a saúde da PM está "parada" há 30 anos. "Temos que agir, não adiante mais nos iludir. Não tem cabimento uma esposa sair de Brazlândia ou Planaltina para ir ao médico no Gama sem a certeza de que terá atendimento. É inaceitável", completou.

O presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos da PMDF, Ricardo Pato, entende que o problema não se restringe ao atendimento de saúde. Na opinião dele, outros problemas, como três anos sem reposição salarial, atraso nas promoções e redução de cerca de R$ 2 mil nos vencimentos de quem se aposenta, agravam ainda mais o problema. "PM endividado não tem como ter saúde para trabalhar", analisou. Pato cobrou respostas do governo e afirmou ter ficado indignado com a ausência de representantes do GDF na audiência pública.

Para a presidente da Associação das Esposas Unidas da PMDF, Edileusa Paiva, o momento é de união. A associação representa cerca de 600 mulheres, que sofrem perseguição até quando distribuem panfletos convidando para participar de debates. "Eu queria estar aqui ouvindo explicações do governo, mas só temos o descaso", condenou.

Edileusa teve o marido policial assassinado e uma filha entrou em depressão, mas ela não consegue atendimento porque a PM não tem atenção psicológica. "Os policiais estão doentes e desmotivados. Vamos sair daqui mais uma vez sem respostas, mas com coragem, e não vamos desistir", afirmou.

Comando – O comando da PM também não participou da audiência, mas mandou um representante, o major Lucena, quem assegurou que as demandas serão levadas aos dirigentes da corporação. Segundo ele, o tema já vem sendo acompanhado e trabalhado pelo comando.

Por sua vez, o representante da diretoria de saúde da PM, major Thiago, informou que só para gerir um centro médico dedicado aos policiais e seus familiares seriam necessários 1.100 profissionais. E a realidade é bem diferente. O quadro tem previsão de 100 oficiais médicos, mas atualmente apenas 50 estão no atendimento.
CLDF